Saudade de um abraço

Nunca encontrei um sentido para a morte que verdadeiramente a justificasse e provocasse em mim o justo apaziguamento da aflição gerada na alma nesses momentos. Talvez, apenas talvez, uma única resposta seria o fato, inequívoco, que a morte finaliza a vida e, portanto, sendo capaz de ato tão expressivo - o de colocar limite em algo tão esplêndido e privilegiado - dê à vida seu verdadeiro valor, seu verdadeiro sentido, sua verdadeira verdade.

É de pensar, sempre que alguém se vai, para qual lugar se vai depois de consumada a morte. Que lugar é esse? É irremediável acrescentar algo mais a esse pensamento momentâneo da perda, que dê mais significado a algo que já é tão significante: a vida. Em uma primeira análise, sem incorporações filosóficas profundas, "ir para um bom lugar" traz duas possibilidades, não excludentes. A primeira é uma espécie de recompensa pela vida vivida sob a égide do bem; a segunda, não tão graciosa, coloca sobre a vida vivida uma espécie de peso, como se o lugar até então vivido não fosse assim tão bom. Que me perdoem os religiosos, mas essas interpretações foram sempre "aproveitadas" por essas instituições para apaziguar a relação entre a entidade gerenciadora de almas e as próprias almas. Quase sempre, creio, isso não tem qualquer sentido.

Uma alternativa a esse pensamento, a essa interpretação, é a troca de filosofia para a questão da morte! Assim... Creio que não devemos perguntar para onde vai alguém (ou sua alma, seu espírito) depois da morte e sim buscar reconhecer o que ficou, daquele que se foi, em quem ficou. E o que ficou é resultado da construção de relações humanas, puramente humanas. Carrego comigo, e a cada dia mais, a certeza de que a pergunta fundamental da morte é esta: "O que ficou - e onde - de quem se foi?". Difícil a resposta? Nem tanto. Experimente lembrar de alguém querido que se foi, independente do tempo. A primeira coisa que você lembrará é a relação que teve com ela, harmoniosa ou não. Tal fato reforça a ideia de que o que fica são as memórias, principalmente as boas. A saudade é prova de que ficaram coisas boas e é aí o local onde está, em parte, quem se foi.

Em resumo, de quem se foi "ficam as memórias" para aqueles que permanecem. Assim, forma-se uma sequência, uma corrente, que mais tarde será chamada de história pessoal. E não considere isso pouco. É muito difícil construir memórias que sejam de interesse para outros preservá-las; é preciso viver bem e de bem com todos em um exercício diário!

Com a absoluta certeza de ter construído muitas e boas memórias com essa tia "torta", neste momento dolorido rendo gratidão por tudo e por tanto, um amor eterno e a saudade, desde já, de um dos melhores abraços que conheci! Como aprendi com com você!! Vai... E se há descanso depois disso, descanse em paz minha queridíssima Tia Gilda! Voce vai ficar no meu coração para sempre!!! TE AMO!!!

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