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Mostrando postagens de 2020

Talvez Ouro Preto...

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Relendo dias atrás alguns poemas de Fernando Pessoa , no livro Cancioneiro , encontrei este, dedicado certamente a um amor não correspondido. Mas fiquei com a impressão de que poderia ser um amor por um lugar, lembrado ao fim de uma tarde qualquer... Para o poeta não sei que lugar seria; para mim talvez Ouro Preto... Deve ser saudade da terra amada e do tempo amado! [No ouro sem fim da tarde morta]  No ouro sem fim da tarde morta,  Na poeira de ouro sem lugar  Da tarde que me passa à porta  Para não parar,  No silêncio dourado ainda  Dos arvoredos verde fim,  Recordo. Eras antiga e linda  E estás em mim...  Tua memória há sem que houvesses,  Teu gesto, sem que fosses alguém,  Como uma brisa me estremeces  E eu choro um bem...  Perdi-te. Não te tive. A hora  É suave para a minha dor.  Deixa meu ser que rememora  Sentir o amor,  Ainda que amar seja um receio,  Uma lembrança falsa e vã,...

Solidões

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Mário Quintana , um observador meticuloso do cotidiano, escreveu certa vez: " Sempre  me senti isolado nessas reuniões sociais: o excesso de gente impede de ver as pessoas...". Em   uma interpretação   minha , bem   particular , creio  que tal pensamento reflete de alguma maneira uma espécie de solidão que sentia o poeta. Gosto da frase e, mesmo que não seja esta a intensão dele, é sobre solidão que atrevo-me a discorrer hoje. Identifico pessoalmente, de forma bem simples, duas formas de solidão. Vou dar nomes a elas, mas sem pretensão de fazer aqui um tratado sobre o assunto. É o que sinto, então escrevo.  O primeiro tipo de solidão é a solidão existencial , sob a perspectiva da nossa existência humana, podendo dividir-se em coletiva  ou individual . A solidão existencial coletiva  refere-se, obviamente, a um tipo de solidão que é experimentada por um grupo de pessoas, conscientemente ou não, com alguma afinidade que o isole dos demais grupo...

Uma madrugada

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É madrugada, sono se foi... No exato momento em que me acomodo confortavelmente na poltrona do meu pequeno escritório, onde estou cercado de livros, objetos e muitas lembranças, o smartphone começa tocar, aleatoriamente, a música El pescador de perlas , numa singela e bela versão de Mila Khodorkovsky. E o pensamento sai de mim, vai para não sei onde... É uma praia e me espera um barco. Apropriado. Sinto uma sensação de e star num lugar conhecido, mas que nunca estive, fazendo alguma coisa cotidiana, mas que nunca fiz! Mesmo assim, sou, nesta situação, capaz de me ver e ver o que ocorre! O pensamento tem disso: por vezes nos escapa e faz com que possamos olhar para nós mesmos. É neste momento, raro e curto, que, saindo de nós, nos observamos sem filtro, nos enxergamos sem máscara, nos ouvimos sem acompanhamentos. Somos nós a nos ver nus! E precisamos disso, como assinalou brilhantemente José Saramago : É preciso sair da ilha para ver a ilha! O sentido dado à frase pelo poeta talvez seja...

Colecionadores de ausências

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Pouco a dizer ! Sobre as ausências, disse  Drummond : Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim. Talvez este seja o grande problema dos humanos: nos valorizamos em demasia frente à natureza. Somos frágil, somos pó. E se do pó viemos, a ele voltaremos! Nada bíblico, apenas uma constatação irrefutável. Quando e onde ocorreu algo diferente disso? Depois da morte, ficam, por algum tempo, as lembranças boas de quem partiu! E elas devem nos confortar completamente! Sentimos saudades,  somos colecionadores de ausências! É o preço da existência! Do pó ao pó Que se cumpra, ao final de cada jornada, Quando o entardecer ficar permanente, A ordem última expressa pela vida... Que tudo torna...

Palavra

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É estranho, mas ocorre com uma frequência que por vezes assusta. Para quem gosta de escrever, exibir ideias conexas, juntar pensamentos, seus e de outros, quando as palavras somem, e por algum tempo nada se expressa com clareza, sobra um desespero aterrorizante. É, penso, parecido com a situação de um centro-avante que por muitas partidas de futebol não consegue fazer gols.  Fico imaginando o motivo, mas nada de concreto me ocorre. Talvez seja inquietações da alma impedindo que se organizem os pensamentos; ou, sentido oposto, é a calmaria da alma que não produz coisa alguma, refletindo bem a expressão de Rubem Alves : " ostra feliz não faz pérolas "! Tenho dúvidas: será mesmo preciso estar triste, aflito ou incomodado, para produzir pensamentos nobres? Não sei... Mas me consolo quando vejo que entre os grandes mestres da escrita isso também ocorre (ou ocorreu), como lindamente descrito por Drummond na canção denominada " O lutador ": Lutar com palavras é a luta mai...

Novos olhares

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Como mudou meu olhar para com todas as coisas, para com tudo em volta! Para com a vida! Fico às vezes assustado quão diferente é em relação ao que já foi... Não é só o acúmulo dos anos, a experiência. É muito mais que isso. Há olhares que nem ao menos existiam e agora não saem de mim; há outros que se destilaram, ficaram mais puros, aguçados. Há também, claro, os olhares bem mais críticos, mais incomodados, mais inconformados, mais atentos que antes; alguns mais rabugentos também (idade!). Mudaram de forma geral esses olhares e acredito que a maior diferença está no fato de que hoje olho e vejo; antes, olhava sem ver!  Como foi acontecendo? Não sei bem a resposta, mas não importa. Creio que a contemplação, o tal "tirar tempo para" foi elemento fundamental nessa mudança, juntamente com o "deixar cair". "Tirar tempo para" requer exercício profundo para fazer o pensamento viajar para horizontes distantes, onde nada incomoda a alma e onde os conceitos perdem o...

Outros paraísos

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Faz algum tempo que fui reconduzido ao mundo da leitura, aquele tipo de leitura que fazemos porque queremos, que fazemos por puro prazer! Aconteceu absolutamente por acaso: entrei em um sebo e li a aba de um livro de Rubem Alves . Comprei e me encantei com a forma fácil com que ele escreve sobre temas diversos em crônicas curtas que tem sempre um objetivo certeiro. Além do seu texto, claro e cativante, me chamou atenção a maneira com que encaixa citações de tantos outros autores, fazendo um perfeito entrelaçamento de ideias, com conclusões e opiniões surpreendentes. Dentre esses autores, até então desconhecidos para mim ou que há tempos não tinha contato, destaco e me desculpo por ausências, sem ordem de importância ou preferência pessoal, Fernando Pessoa , Mário Quintana , Luiz Carlos Lisboa , Helena Kolody , Miguel Nicolelis , Gustavo Corção ,  Gaston Bachelard , Marcelo Gleiser , João Doederlein , Umberto Eco ,  Richard Dawkins , Piaget , Paulo Freire , Stephen ...

Primeiro encontro

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32 anos atrás fizemos nossa escolha: "Seremos um!". E até hoje somos!!! Andávamos sem nos procurar, mas sabendo sempre que andávamos para nos encontrar. Cortázar Foi puramente por acaso Estarmos onde estávamos Naquele exato instante Quando se deu o acontecido. Falamos palavras poucas E voltamos ao fazer de antes, Mal nos vimos com os olhos E seguimos cada caminho. Mas, voltas o mundo dando, Olhares foram se flertando E fez daquele rápido encontro Um eterno laço de mãos dadas. Que bom! ...Foto... Eu e Sônia, um dia qualquer, em casa, Agosto/2020.

Tempos de espera...

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Sou de pele! Isto significa que me importa muito o tipo de abraço que recebo (e que dou)... Não, não gosto de abraço digital, embora nesses tempos outro jeito não há... Não, não gosto de abraço por sinais, embora nesses tempos outro jeito não há... Gosto do abraço apertado que faz sentir o pulsar do coração um do outro, que faz sentir o cheiro do perfume ou do suor... Gosto do abraço demorado, aquele em que nos perdemos em lembranças de antes do abraço, que diz "te amo" sem palavras... Gosto do abraço que perdoa, que comemora, que consola... Gosto do abraço!! Um abraço "apertado" a vocês!! TEMPOS DE ESPERA Que o meu silêncio não seja ausência, Que o meu silêncio seja tempo de espera! Para que o teu coração se acalme, Para que o meu coração fale ao teu. Que a minha distância não seja grande, Que a minha distância não seja falta! Para que o meu abraço te alcance, Para que o teu abraço me salve! Que a minha chegada não tarde, Que a minha chegada seja esperad...

Cinco anos depois...

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Nunca senti tamanha dor... É só o que posso dizer sobre a partida inesperada de Lara, minha filha, cinco anos atrás. Definitivamente, indescritível...  Nos aniversários de sua partida sempre escrevi alguma coisa para acalmar minha alma, continuamente saudosa, na forma de uma carta dirigida a ela (como se ela pudesse receber e ler!), na verdade um ato solitário. Agora, no  aniversário de cinco anos, isto se repetiu, senti a mesma necessidade. Datas, datas... Claro que falo de mim, dos meus sentimentos e falo diretamente para ela... Isto pode ser interpretado de diversas formas, inclusive, e possivelmente a mais comum, que ela possa saber que estou fazendo isso. E pode ser loucura também... Mas como poderão ver é apenas um devaneio de um pai que resolveu, desta vez, compartilhar sua saudade! A data e este ato ficarão como marco do início do blog, uma homenagem a esta linda criatura!  Mais saudades que tristezas!!! Oi filha! Tempo faz... O brilhante Fernando Pesso...

Início

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A ideia, confesso, era já de algum tempo. Faltava coragem... Ela surgiu, ainda tímida, após algumas sugestões de amigos queridos... Desprezando o conceito de competência, a pretensão era ser (e ainda é) um lugar onde expressasse meus pensamentos sobre assuntos diversos, com textos próprios e de outros, mas apenas pequenos textos. Ah, e poesias, que não deixam de ser textos, com algum estilo! O andamento das coisas levou-me a  ESTE  lugar, onde desejo compartilhar um " pelotão de palavras ", no sentido dado por Machado de Assis : " Mas lá vou eu me adiantando de novo. O leitor vai me desculpar. É que, assim que me ponho a escrever, todas as coisas que eu tenho para contar se amontoam correndo na ponta dos dedos, cada uma querendo chegar à frente das outras, e às vezes é difícil manter o pelotão de palavras em ordem .". Mas irei associar a esses pelotões, sempre que possível, algumas fotografias, uma paixão! Como " Meu quintal é maior que o mundo...