Duas opções
Faz algum tempo, adotei a leitura eletrônica de livros. Ou seja, no meu smartphone tem um aplicativo que, por baixo de seu ícone, carrega sem esforço uma centena de livros. É uma prateleira respeitável, para mim. Não tem aquele cheiro delicioso, de novo ou velho dependendo do caso, que se sente quando se abre um livro real: talvez seja um inconveniente. Mas em compensação, não me esforço para ter junto a mim todos aqueles exemplares que gosto ou que quero em um dado momento, como em uma viagem ou uns dias de férias, por exemplo. Por isso não sou extremista: tenho muitos livros físicos e outros tantos digitais.

Entre as páginas dos livros físicos, daqueles que já li e possuo, por vezes podem ser encontradas anotações diretas para um determinado parágrafo ou palavra. Às vezes, também, podem ser encontrados pequenos bilhetes com anotações, comentários ou interpretações, que fiz no momento da leitura. Por isso, egoísmo à parte, tenho sempre receio e cuidado ao emprestar livros. Vão junto deles parte de mim...
Nas versões digitais é mais crítica ainda essa situação: são muitos os recursos que por vezes nos perdemos em tantos! E tudo vai se o smartphone for. No entanto, depois que passei a usar essa alternativa, confesso, ficou bem mais fácil localizar um trecho que de forma repentina me vem à memória e que desejo reler ou usar como citação. Os recursos vão a tal ponto que os aplicativos fazem uma lista daquilo que "rabisquei" ao longo do livro. E há os que deixam guardados comentários se assim eu os desejar. E tem muito mais que isso...
Pronto, cheguei onde queria. Recentemente adquiri um desses livros eletrônicos com poesias de um autor que conheci poucos anos faz e que aprendi a admirar. Fui lendo aos poucos e, como sempre, "anotando" as partes que me interessavam. Agora que finalizei o livro constatei uma curiosidade: a lista de anotações é quase o próprio livro! Ou seja, gostei tanto do livro que foi-me praticamente impossível não anotá-lo. E observei, adicionalmente, que essa função no aplicativo serve não somente para registrar o que gostei em um livro como também o quanto gostei dele! Santificada tecnologia...
Bom, por hoje é isso. Uma coisa simples, mas que quis registrar e compartilhar.
Ah, sim... O nome do livro e do autor, como recomendação:
-Poemas escolhidos
-Mia Couto
Vocês vão gostar. Segue uma amostra! E nessa amostra, quem nasceu em cidade como a que eu nasci, mais ou menos quando eu nasci, vai se reconhecer!
AS RUAS
No tempo
em que havia ruas,
ao fim da tarde
minha mãe nos convocava:
era a hora do regresso.
E a rua entrava
conosco em casa.
Tanto o Tempo
morava em nós
que dispensávamos futuro.
Recolhida em meu quarto,
a cidade adormecia
no mesmo embalo da nossa mãe.
À entrada da cama,
eu sacudia a areia dos sonhos
e despertava vidas além.
Entre casa e mundo
nenhuma porta cabia:
que fechadura encerra
os dois lados do infinito?
12.10.22
Um ano sem meu grande incentivador para os estudos e, certamente, um dos grandes responsáveis por ser quem sou: saudades do meu pai!
(especialmente para ele!)
DANOS E ENGANOS
Aquele que acredita ter visto o mundo,
não aprendeu a escutar-se no vento.
Aquele que se deitou na terra,
vestiu sonhos como se fossem vidas
e tudo o mais fossem regressos.
Mas aquele que tocou o fruto
provou a inicial doçura do tempo.
E quando tombou
de si mesmo se fez semente.
Imagem: novaescola.org.br
Sempre admirei o incentivo que o "seu" Aldo dava para a leitura/estudos.
ResponderExcluirE adoro o Mia Couto! Essa poesia eu não conhecia ♥️