Um passarinho...
Um certo dia, tempo faz, um passarinho se colocou de pé à beira do ninho e, batendo forte as suas asas, imaginou que poderia voar sozinho iniciando sua vida livre e própria. O plano: cruzar os mares e tentar a vida em outras paisagens.
Arrumou tudo, inclusive os sonhos, e em um dado instante lançou-se na maior aventura de sua vida. Veio parar aqui, transformando essa terra na sua nova casa, seu novo ninho! Encontrou o amor, teve filhos, netos, bisneta, trabalhou duro e muito e viveu uma vida boa, pouco preocupado consigo mas sempre generoso com os demais, entre erros e acertos foi feliz. Nunca mais retornou ao seu ninho de origem. Dizia sempre que a casa dele era aqui, com os seus.
Muitos anos se passaram, até que as forças de suas asas foram diminuindo e os sonhos também. Batendo cada vez mais fracas, suas asas denunciavam a chegada do período de descanso, que diga-se não fora planejado em nenhum momento. Eu, como filho, acolhi e fiz dele meu passarinho com todo cuidado, carinho e o conforto necessário. Não faltou amor e, mesmo assim, não foi tudo um mar de rosas: era um passarinho autoritário, guerreiro por natureza, cheio de vontades próprias apesar das fracas asas. Mas no frigir dos ovos, deu tudo certo. Aprendemos com a convivência os limites um do outro e sou orgulhoso do que pude fazer pelo meu passarinho...
Nestes últimos dias os já poucos movimentos de suas asas foram diminuindo mais e mais, tornando-o dependente para absolutamente tudo. Na última tarde, finalmente as asas cessaram. E partiu definitimente para o grande voo desconhecido. Como sou um homem sem fé no depois, fico já com a sensação do grande vazio que certamente sentirei. Não sei, mas entre o desejo de sua permanência, sentimento egoísta frente ao sofrimento que padecia, e seu descanso, fico tranquilo com o descanso. O sofrimento não purifica ninguém, isso é certo!
Albert Camus nos ensina o seguinte: “Se, durante o dia, o vôo dos pássaros parece sempre sem destino, à noite dir-se-ia reencontrar sempre uma finalidade. Voam para alguma coisa. Assim, talvez, na noite da vida...” .
Ficará certamente uma enorme saudade e muita gratidão!!! Descanse em paz, meu pai!
12.10.2021
Nossa emocionei.
ResponderExcluirMuito lindo.
Somente agora pude saber do voo desse passarinho, cujo filho é o meu.maior amigo e também meu irmão. Sou testemunha do quanto senpre cuidou de sua ave tão rara.
ResponderExcluirReceba o meu carinho Julito.