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Mostrando postagens de novembro, 2020

Solidões

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Mário Quintana , um observador meticuloso do cotidiano, escreveu certa vez: " Sempre  me senti isolado nessas reuniões sociais: o excesso de gente impede de ver as pessoas...". Em   uma interpretação   minha , bem   particular , creio  que tal pensamento reflete de alguma maneira uma espécie de solidão que sentia o poeta. Gosto da frase e, mesmo que não seja esta a intensão dele, é sobre solidão que atrevo-me a discorrer hoje. Identifico pessoalmente, de forma bem simples, duas formas de solidão. Vou dar nomes a elas, mas sem pretensão de fazer aqui um tratado sobre o assunto. É o que sinto, então escrevo.  O primeiro tipo de solidão é a solidão existencial , sob a perspectiva da nossa existência humana, podendo dividir-se em coletiva  ou individual . A solidão existencial coletiva  refere-se, obviamente, a um tipo de solidão que é experimentada por um grupo de pessoas, conscientemente ou não, com alguma afinidade que o isole dos demais grupo...

Uma madrugada

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É madrugada, sono se foi... No exato momento em que me acomodo confortavelmente na poltrona do meu pequeno escritório, onde estou cercado de livros, objetos e muitas lembranças, o smartphone começa tocar, aleatoriamente, a música El pescador de perlas , numa singela e bela versão de Mila Khodorkovsky. E o pensamento sai de mim, vai para não sei onde... É uma praia e me espera um barco. Apropriado. Sinto uma sensação de e star num lugar conhecido, mas que nunca estive, fazendo alguma coisa cotidiana, mas que nunca fiz! Mesmo assim, sou, nesta situação, capaz de me ver e ver o que ocorre! O pensamento tem disso: por vezes nos escapa e faz com que possamos olhar para nós mesmos. É neste momento, raro e curto, que, saindo de nós, nos observamos sem filtro, nos enxergamos sem máscara, nos ouvimos sem acompanhamentos. Somos nós a nos ver nus! E precisamos disso, como assinalou brilhantemente José Saramago : É preciso sair da ilha para ver a ilha! O sentido dado à frase pelo poeta talvez seja...

Colecionadores de ausências

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Pouco a dizer ! Sobre as ausências, disse  Drummond : Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim. Talvez este seja o grande problema dos humanos: nos valorizamos em demasia frente à natureza. Somos frágil, somos pó. E se do pó viemos, a ele voltaremos! Nada bíblico, apenas uma constatação irrefutável. Quando e onde ocorreu algo diferente disso? Depois da morte, ficam, por algum tempo, as lembranças boas de quem partiu! E elas devem nos confortar completamente! Sentimos saudades,  somos colecionadores de ausências! É o preço da existência! Do pó ao pó Que se cumpra, ao final de cada jornada, Quando o entardecer ficar permanente, A ordem última expressa pela vida... Que tudo torna...