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Mostrando postagens de junho, 2025

O QUE A MEMÓRIA AMA, FICA ETERNO

Quando pequena, não entendia  o choro solto da minha mãe ao assistir a  um filme, ouvir uma música ou ler um livro. O que eu não sabia é que  minha mãe não chorava pelas coisas visíveis. Ela chorava pela eternidade  que vivia dentro dela e que eu, na minha meninice, era incapaz de  compreender.   O tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocada por pequenos milagres do cotidiano.   É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida  embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa,  eternizando momentos. Crianças têm o tempo a seu favor e a memória ainda  é muito recente. Para elas, um filme é só um filme; uma melodia, só uma  melodia. Ignoram o quanto a infância é impregnada de eternidade.   Diante do tempo, envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente  parte. Porém, para a memória, ainda somos jovens, atletas, amantes  insaciáveis. Nossos filhos são crianças, n...

Uma visita a mim mesmo...

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Acordei magicamente sentado em um banco de jardim. A praça, desconhecida. A cidade, também. A manhã incompleta, envolta em uma neblina leve, aumentava meu espanto diante do mistério. Aquele friozinho entre a madrugada e o amanhecer parecia amplificado pela incerteza de não saber onde eu estava. Como Fernando Pessoa escreveu: "Tenho em mim todos os sonhos do mundo." E ali, perdido e assustado, sentia todos esses sonhos se esvaírem na névoa. O tempo parecia parado quando percebi outra surpresa: uma criança, não mais que seis anos, sentada na outra ponta do banco. Havia em seu rosto algo estranhamente familiar. Cabelos negros curtos, olhos intensos, traços reconhecíveis. Quando nossos olhares se cruzaram, um arrepio percorreu minha espinha. Era eu. Eu-criança, diante de mim mesmo. O tempo congelou-se. "Sou sua primeira lembrança de você mesmo", disse ele. E eu entendi o motivo do susto. Mais alguns segundos de eternidade se passaram até que ele continuasse. Disse qu...