Postagens

Mostrando postagens de maio, 2025

"Deus falando com voce", o Deus de Spinoza

Imagem
"Para de ficar rezando e batendo no peito. O que eu quero que faças é que saias pelo mundo, desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti. Para de ir a estes templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nas praias. Aí é onde eu vivo e expresso o meu amor por ti. Para de me culpar pela tua vida miserável; eu nunca te disse que eras um pecador. Para de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar dos teus amigos, nos olhos de teu filhinho... não me encontrarás em nenhum livro... Para de tanto ter medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem me incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor. Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de n...

A palavra mágica da alma

De repente, como se um destino mágico me houvesse operado de uma cegueira antiga com grandes resultados súbitos, ergo a cabeça, da minha vida anônima, para o conhecimento claro de como existo. E vejo que tudo quanto tenho feito, tudo quanto tenho pensado, tudo quanto tenho sido, é uma espécie de engano e de loucura. Maravilho-me do que consegui não ver. Estranho quanto fui e que vejo que afinal não sou. Olho, como numa extensão ao sol que rompe nuvens, a minha vida passada; e noto, com um pasmo metafísico, como todos os meus gestos mais certos, as minhas ideias mais claras, e os meus propósitos mais lógicos, não foram, afinal, mais que bebedeira nata, loucura natural, grande desconhecimento.  Nem sequer representei. Representaram-me. Fui, não o ator, mas os gestos dele. Tudo quanto tenho feito, pensado, sido, é uma soma de subordinações, ou a um ente falso que julguei meu, por que agi dele para fora, ou de um peso de circunstâncias que supus ser o ar que respirava. Sou, neste momen...

Veredas

Dia desses (tempo já faz), retornando de um trabalho no campo, observei que o sol lentamente entrava em ocaso. E lá bem distante, na linha limite entre o céu e a terra, começavam uma sucessão de cores impressionante: o laranja dava lugar para o vermelho sangue; o azul escuro era substituído por um roxo mórbido e os tons amarelos misturavam-se em diferentes intensidades com o branco de algumas poucas nuvens, que reluziam feito ouro por ação do resto de sol. Tudo em faixas quase horizontais, finas, que trocavam de lugar a cada piscada, uma mistura de cores impressionante. Um espetáculo. E lembrei-me, sem saber o motivo, da expressão de João Bosco e Aldir Blanc, na música O equilibrista : E nuvens lá no mata-borrão do céu Chupavam manchas torturadas... Estacionei rápida e cuidadosamente em um lugar ligeiramente alto da estrada e coloquei-me a observar, a contemplar, a saborear a beleza do instante. Sim, instante... Mesmo tendo pedido aos deuses da natureza que perpetuassem aquele momento,...

O assunto

É uma noite normal depois de um dia de trabalho... Mas hoje o sofá me incomodou e procurei a poltrona do escritório, onde me encontro agora. Para quem gosta de expressar ideias existem dias difíceis: nada que é pensado consegue ser traduzido em uma sequência de palavras que faça algum sentido para quem as lê posteriormente. Às vezes até acontece de uma luz "solar" brilhar sobre algo, mas surge inesperadamente, entre o sol que ilumina e o assunto iluminado, uma nuvem e tudo volta a estaca zero. Cada um que escreve, ou tenta, tem lá suas maneiras de enxergar através de nuvens. Por exemplo, buscar inspiração em alguma coisa escrita ou falada por outra pessoa, seja ela um poeta, um escritor, o senhor que limpa a praça, a senhora que se encontra toda semana na feira, etc. Alguma frase, algum poema que fique preso à nossa memória e que suscita o assunto.  Hoje abri um antigo livro de Fernando Pessoa   (Obra Poética), e encontrei ao acaso o poema a seguir (parte I), originalmente pu...